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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Entrevista de Corey Para a Kerrang!


Corey Taylor é, provavelmente, mais conhecido por usar uma máscara que mandaria a maioria das crianças correndo de volta pra seus pais, e por seus vocais guturais que ajudaram a ele e sua banda, o Slipknot, a conseguir três álbuns entre o top 10. Sua entrada aconteceu quando os membros do Slipknot o convidaram a se juntar à banda, quando ele trabalhava numa loja de “entretenimento adulto” e também tocava com sua outra banda, o Stone Sour. Naquela época, mal sabia ele que estava entrando em uma das maiores bandas de metal do século vinte e um. Porém, não foram só águas calmas para Corey, tendo que se envolver constantemente em uma batalha suja contra as drogas e o alcoolismo (os quais o deixavam com um sentimento suicida).

Kerrang!: Quem são as pessoas na sua vida que te fizeram ser quem você é hoje?

Corey Taylor: O pessoal na minha vida que me fez ser quem sou são uma mistura de amigos e família, na verdade. Eu não conhecia muitos dos meus familiares enquanto crescia, eu conhecia os da parte da minha mãe, mas não os da parte do meu pai por que não cresci com ele.

Eu acredito que a maior influencia que eu tive veio da minha avó, Thelma. Ela influenciou em minha ética de trabalho, em minha atenção às pessoas que amo. Ela foi minha mãe de verdade, eu amo a minha mãe, mas foi um jeito insano de crescer, apenas brutalidade por todos os lados. Minha avó era minha rocha, minha fundação, ela era minha estabilidade, meu porto seguro. Isso causou muito impacto em mim, especialmente no meu amadurecimento, e até hoje causa. Minha avó é tão doida, ela se aposentou depois de ter trabalhado num lugar por 25 anos, tira um ano pra descansar, fica entediada, daí volta a trabalhar em um lugar completamente diferente do anterior e ficou lá por quase 20 anos. Eu fico, tipo “o que você está fazendo? Você mal pode andar agora, mas continua trabalhando, você ta doida?” Isso, pra mim, isso é grande.

Eu penso que muitos dos meus amigos que eu tinha quando fiz 20 anos, são agora meus amigos do peito. Meu melhor amigo, Danny, um bom e grande amigo meu, Jeff, são as pessoas que, quando eu estava realmente tentando me encontrar, eu as encontrei e eles praticamente abriram minha mente pra tudo. Eu era como uma minúscula bomba nuclear, apenas esperando para explodir, e quando os encontrei, encontrei minha tribo. Nós gostávamos todos das mesmas músicas doidas, nós todos tínhamos o mesmo fascínio por música e cultura e estávamos realmente prontos para ser lendas antes mesmo de ter feito qualquer coisa para que nos tornássemos lendas. Foi uma época fantástica em minha vida; foram, provavelmente, os momentos mais felizes da minha vida. Então eu penso nestes dois... E nos anos tentando descobrir quem eu era, esse é o real motivo de eu ser como sou.


K!: Sua mãe criou você e sua irmã menor sozinha, e teve que se mudar muito enquanto vocês eram jovens. Como essas constantes mudanças de lugar (25 estados na época dos seus 15 anos) afetaram sua infância? Essas mudanças o permitiram fazer muitos amigos quando era pequeno?

CT: Era absolutamente terrível tentar fazer amigos enquanto eu crescia, por que nos mudávamos muito. Por causa da minha personalidade, a síndrome do “palhaço da classe”, o extrovertido que “Hei, eu abaixo minhas calças por 25 centavos!”; eu era assim, isso funcionava em alguns lugares e nem um pouco em outros. Eu me lembro que, num período de um ano, nos mudamos quatro vezes e eu fui para três escolhas diferentes; eu estive em três escolas diferentes na 7ªsérie. Eu era um mane em uma, uma lenda na segunda e simplesmente invisível na última, foi um ano estranho.

Eu estava profundamente envolvido com drogas e essa era a única coisa que estava ali de verdade, era a única coisa constante. Então lá estava eu, com quase 14 anos de idade e ia de normal pra alto por nada. Eu me lembro de pensar “é isso que é a vida? É isso de verdade que eu tenho que esperar?” Mas por sorte eu percebi que não, não era; mas é estranho quando você é movido, quase como uma peça de xadrez, e você não tem tempo para encontrar raízes ou aquela estabilidade que eu invejava em tantas pessoas.

Mas o saldo positivo daquela situação, é que eu não seria quem sou hoje, se não fosse por todas aquelas estradas e momentos malucos na minha vida onde eu estava pendurado por um fio, eu não seria eu. Crescer daquele jeito foi difícil na época, mas eu não mudaria.

K!: Seu pai deixou sua mãe antes de você nascer. Você se reencontrou com ele depois que sua ex-mulher o encontrou por meio de um detetive particular. Como foi vê-lo pela primeira vez?

CT: Ver meu pai pela primeira vez foi uma tarefa difícil. Eu fiquei muito mal, vamos dizer assim, eu quase desmaiei. Em primeiro lugar, eu estava nervoso. Esse foi um dos momentos que eu tinha com minha ex-mulher nos quais eu estava grato por ela estar lá, era um dos poucos momentos onde ela me compreendia. Nós voamos para San Diego e eu me lembro de estar dirigindo e estar tipo “o que eu vou falar? O que eu vou fazer?”. Por que antes disso, nós só havíamos nos falado duas vezes no telefone; a primeira vez que eu falei com ele, eu estava no Brasil e eu literalmente comecei a tremer. Nós nos falamos por 45 minutos e estávamos ambos muito emocionados. Naqueles 45 minutos, muitas das minhas concepções erradas sumiram, bem naquela hora. Eu estava, tipo, ai meu deus, todas essas coisas que eu achava que sabia eram só suposições, não eram fatos, eram suposições. Então conhecê-lo foi ainda melhor. Meu pai tem, provavelmente, o maior coração que eu já vi; ele e sua esposa Anna são duas das pessoas mais maravilhosas no planeta terra e é uma pena que não possa vê-los mais do que faço.

Mas isso abriu, mentalmente, as portas para que eu repensasse muitas coisas e me fez ficar pronto para explorar o que é ser uma pessoa diferente. Muitas pessoas se limitam por se agarrar a suas bagagens, eles se limitam muito com isso; pra mim, conhecer meu pai, ver como ele é e ver o outro lado de onde eu vim, me fez ascender espiritualmente. Não virar “hippie” e essas coisas, mas você não consegue perceber o seu potencial a não ser que você se deixe percebê-lo, e é isso que eu aprendi, de verdade, ao conhecer meu pai.

K!: Você pode nos contar como foi sua primeira apresentação, com 09 anos de idade, na festa da sua prima?

CT: A primeira música com a qual me apresentei foi, honestamente, por acidente; eu estava na casa da minha prima, eu acredito que era um aniversário, e toda a família estava em volta da mesa da cozinha. Nos estávamos no quarto dela, apenas ouvindo música. Ela era alguns anos mais velha que eu, então ela tinha me mostrado muitas músicas. Nós estávamos escutando “Separate Ways”, do Journey, num vinil. Eu estava cantando junto enquanto ela ia baixando o volume bem devagar pra me ouvir cantar, então ela parou e disse: “você vem comigo agora”. Eu estava, tipo “que?”. Ela me coloca num canto da sala, chama a família toda e fiz: “vocês tem que ouvir isso, é fantástico!”. Ela me fez cantar “a capella “. Eu estava, tipo “Não. Que? Não. Que??? Não!” Se isso não te faz ficar com medo, eu não sei o que poderia fazer! Vocês podem agradecer ao Steve Perry por todas as músicas do Slipknot e do Stone Sour.

K!: Você se mudou para junto de sua avó, que alimentou seu interesse em cantar com amor que ela tem por Elvis Presley. Como ela te ajudou?

CT: Minha avó, de muitas maneiras, realmente ajudou a formar meu gosto musical. Ela tinha, literalmente, centenas de 8-tracks do Elvis – dos quais as pessoas, provavelmente, nunca ouviram falar – mas ela tinha caixas dessas coisas e eu me lembro que meu primeiro radio foi, na verdade, o único rádio que ela já tevê e ele tinha um tocador de 8-track, então eu comecei a escutar muito Elvis quando eu era novo. Quando eu me mudei pra casa dela, eu herdei tudo aquilo, então eu estava cheio de coisas, eu pensava “olha todos esses discos 8-tracks do Elvis! Uhu!” Mas ela tinha muito vinil também; eu me lembro de escutar os Statler Brothers quando era um garoto. Minha avó era muito fã de country, então eu cresci ouvindo muito disso, era Iowa. Eu me lembro de ouvir Statler Brothers, os Oakridge Boys, eu era o maior fã de “Elvira”, você ta me zoando? Aquela música era fantástica!
Mas minha mãe era uma grande fã de “disco”, e eram meados de 80, final da década, então eu tinha tudo isso em vinil. Meus amigos vinham me visitar e falavam “por que você tem Village People?” e eu respondia “Eu não sei, só ta aí no meio dos meus discos”.

K!: O Stone Sour foi a banda que te deu sucesso inicialmente, quais são suas lembranças favoritas daquela época?

CT: Minhas memórias preferidas do Stone Sour são dos primeiros anos. Era tudo exploração, tudo novo. Foi a primeira banda pra qual eu realmente me esforcei para escrever as músicas, a primeira com a qual eu fiz shows ao vivo e a primeira com a qual fomos fazer turnê em cidades diferentes, eu era novo e estava alucinado. Eu tinha cabelo comprido e loiro, pesava 60 kg quando estava suado e pensava que era a coisa mais sensual que existia! Era muito divertido! Mas me ensinou tanto, não era nem próximo de um trabalho, eu vivia para tocar música. Eu me lembro de um ano quando disse: “Eu vou viver do dinheiro que estamos ganhando com o Stone Sour”, que não era muita coisa – eu conseguia comprar cigarros e bebida! Era isso! E agradeço a Deus pela vovó, por que ela me manteve alimentado.

Mas minhas melhores lembranças vêm de tudo aquilo que era novo, não havia nada que não pudéssemos fazer, não havia nada que eu não tentasse no palco. Eu me lembro que nós saíamos e tocávamos por semanas, as vezes tocando 3 sets de 1h de covers, por que era só o que tínhamos pra fazer e por que descobrimos que éramos muito bons. Ta aí outra coisa, eu me convenci de que era muito bom no que faço e as pessoas, eles se identificavam, nós causávamos alguma coisa nas pessoas. Era fantástico. Eu não tenho arrependimentos daqueles primeiros anos, eu escuto algumas coisas daquela época e penso: “bom deus, é tão antigo!”. Mas naquela época era tão prazeroso conseguir escrever uma música e então tocá-la pras pessoas.


K!: Depois do Stone Sour, você se juntou ao Slipknot e teve um sucesso incrível com eles. Houve algum amigo que te ajudaram nesse caminho, de uma banda pra outra?

CT: Bom, eu me lembro de quando fui convidado. Eu recebi o contive as quatro da manha, no porn-shop, eles entraram e nem vieram direto falar comigo, eles ainda andaram pela loja. Eu sei que existe essa lenda de que eles me ameaçaram de morte caso eu não aceitasse, mas isso é tanta burrice, deixa eu te contar! Eles estavam com tanto medo de falar comigo, e é sério isso, de verdade. Eles entraram na loja, ficaram olhando todas as caixas que encontravam e eu sentado num canto só pensando “o que está acontecendo ali?. Em primeiro lugar, por que eles estão aqui?” Eu nunca tinha visto esses caras juntos, daí eles vem e o Clown, deus o abençoe, diz: “sabe, cara. Eu vou te falar a real aqui”. Foi adorável, eu estava nervoso no início, meu cérebro gritava: sim! Mas minha boca disse: “Sabe de uma coisa, eu vou tentar”. Por que você há de convir que foi um grande salto, o Stone Sour, naquela época, era bem hard rock, mas eu não gritava, era tudo melódico, era propriamente hard rock. Aquilo significava entrar numa banda de metal na qual não haviam limites, e eu, obviamente, queria aquilo mas, ainda tinha alguma coisa na minha cabeça que era como “vamos tentar e ver o que acontece”.
A próxima coisa que eu consigo me lembrar é de pegar meu melhor amigo, Denny e dizer “Cara, eu acabei de ser convidado pra entrar no Slipknot”! Daí ele começa a surtar, ele dizia “você tem que fazer isso!” E o resto é história.

K!: Você bebia muito nessa época, de manhã até a noite, até chegar na sua tentativa de suicídio, no Hyatt Hotel, em 2003. Você pode nos dizer o que aconteceu?

CT: Se eu estava no fundo do poço, aquilo era O fundo. Depois do sucesso inicial do Slipknot, haviam muitos pontos positivos, mas em 2003 havia um grande ponto negativo acontecendo. Eu tinha chegado ao ponto, e não estou culpando ninguém por isso, mas eu, definitivamente, tinha um problema com bebida naquele momento. Mas o problema não era o álcool, eram as coisas que estavam acontecendo na minha vida. Obviamente aconteceu aquele incidente no Hyatt, na Sunset, do qual eu me lembro claramente. Foi logo antes de eu desmaiar, eu me lembro de estar pronto na sacada, e deus abençoe meu amigo Tom Hazar (sic) – se ele não tivesse chegado lá, nós não estaríamos tendo essa conversa hoje.

Você se deixa levar, se deixa chegar num ponto, como eu disse antes, onde você sente que nada vai mudar. Mas é quando você deixa esses problemas pra traz que percebe: “você quer saber? Eu posso mudar essas coisas, eu posso mudar tudo o que está acontecendo comigo”. E foi aí que eu comecei a dar os primeiros passos pra longe daquilo. Eu tive que deixar a doideira de lado por um tempo e realmente me focar em mim mesmo; e alguns anos depois, e muitas mudanças, aqui estou eu, tomara que para melhor. É um ótimo sentimento saber que você está no controle de seu próprio destino.

K!: Você teve sua primeira filha em 1992 e seu segundo em 2002 – como é a vida fora da banda?

CT: Eu sou, provavelmente, o maior babão do planeta. Quando se trata dos meus filhos, eu os amo e tento ser firme, mas eu me divirto tanto com eles, meus filhos são mágicos pra mim. É uma coisa tão maravilhosa ter a possibilidade de ser um pai e a melhor coisa é que eu não tinha base, eu não tinha de onde tomar referencia, eu não poderia pensar “bom, meu pai era desse jeito”. Pra mim era tudo novo e, quando se trata dos meus filhos, eu não tenho medo de receber conselho de outras pessoas. Eu acho que isso me dá uma mente aberta e isso não significa que eu não fique estressado com as coisas que eles fazem, mas do ponto de vista dos pais, eu mataria pelos meus filhos. Nós os levamos pra Disney há uma semana, eles se divertiram e foi a primeira vez que eu tive os dois comigo numa viagem. Eles se divertiram tanto que quando chegamos em casa estavam exaustos, foram direto pra cama. Eu tenho muita sorte de estar onde estou.

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